terça-feira, 23 de setembro de 2008

Cuca Fromer: o webjornalista é um profissional multimídia


A Gerente de Projetos Editorias do Portal Terra Brasil, Ana Lycia Fromer, mais conhecida como Cuca, participará de um painel sobre os desafios do jornalismo online no 7º Encontro de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), na próxima quarta-feira, dia 24, a partir das 9h.


Em entrevista, Fromer defende o jornalismo digital das críticas que gera em relação ao jornalismo participativo e às parcerias com sites especializados. Também explica as principais características do webjornalismo, assim como sua relação com as outras áreas da comunicação.

Leia os principais momentos da entrevista e, a seguir, ouça ao podcast, com as respostas na integra, neste link: http://www.jiglly.podomatic.com/ (caso o servidor não inicie o áudio, faça o download neste link: http://jiglly.podomatic.com/enclosure/2008-09-23T06_06_32-07_00.mp3).

Grupo - Muitos profissionais são contra a participação dos internautas nos veículos online porque acreditam que as empresas deixam de contratar jornalistas por causa disso. O Terra estimula essa participação,como podemos ver no “Vc Repórter”.[1] Vocês deixam de contratar jornalistas por causa disso?

Cuca Fromer – Não, ao contrário. Não há concorrência entre um trabalho e o outro. O trabalho de jornalismo é feito por jornalistas ou por pessoas formadas e habilitadas para isso. Não posso dizer que é feito só por jornalistas, mesmo porque eu não sou formada em jornalismo (apesar de trabalhar como jornalista há muitos anos) e seria um absurdo dizer isso.
Uma coisa é o trabalho profissional, que exige determinadas habilidades – nós escutamos o outro lado, não publicamos nada que ponha em risco a vida de pessoas ou instituições, a gente checa a informação para saber se está correta e precisa.

Isso é feito também em um canal participativo, não há um canal participativo que entre diretamente no ar. Os textos enviados ao “Vc Repórter” são checados pela redação e a matéria não é publicada enquanto não conseguirmos ouvir o outro lado. Ou seja, o “Vc Repórter” é um pauteiro e, como qualquer assessoria de imprensa ou qualquer outro profissional de qualquer outro lugar (assim como o dono do restaurante da esquina), pode me pautar.

O “Vc Repórter” é checado por um jornalista que não está em começo de carreira, não é um estagiário, nem um trainee. Normalmente são os editores-assistentes que irão checar esse produto antes de ser publicado. Eu não acho que a participação do leitor dentro dos portais seja uma substituição do trabalho de jornalista. O que chamam de jornalismo participativo é exatamente isto: há uma participação que não existia antes.

Tudo isso é mediado e totalmente controlado. Não pensem que eu não tenho gente 24 horas olhando aquilo que vai entrar no ar. Por quê? Porque racismo é crime, discriminação sexual é crime. Se estiver publicado seguirá sendo crime. Nós não estamos aqui para isso.
Não pagamos esse tipo de contribuição a participação do leitor. Se não é trabalho profissional, não é pago. Quem recebe salário é o jornalista que trabalha para isso. Essas pessoas estão contribuindo porque querem, e não ganham nada com isso.

É assim que a gente enxerga a participação do leitor. Se ela é importante? Ela é fundamental, é genial. Nós temos uma rede de correspondentes grande no Terra, e a participação do leitor não anulou nada disso. Pelo contrário, aumentou. Ninguém está tomando o lugar do jornalista. O jornalista tem um trabalho que é bastante especializado, muito mais no sentido do bom texto, compreensível, sem buracos ou falta de informação. E esse é um trabalho que será sempre da gente.

Grupo – Certa vez você disse que é melhor ter parcerias com sites e blogs do que jornalistas especializados em só uma área.

Fromer – A gente trabalha com grandes parcerias, é verdade. A web é diferente do papel, que tem limites de tamanhos. A posição do Terra é ter todo o conteúdo possível e imaginável. Se não está na “Capa Terra”, está na lista, está em algum lugar. O objetivo é ter tudo o que for possível de conteúdo que esteja acontecendo ou vá acontecer.

Por que normalmente escolhemos parcerias com outros sites? Porque eles têm mais estrutura e podem entregar as coisas “mais inteiras” para a gente. Nós tentamos ter parceiros que acrescentem conteúdo e audiência. Por exemplo, fazer um acordo com o Fuxico – nesse contrato vale o tanto de visitas que vou ter com ele. Por que eu contrataria três pessoas para fazerem um site de fofocas se um site especializado me traz, não só esse conteúdo, como uma audiência muito grande? Todos nós trabalhamos para isso. É isso que vende anúncio, é isso que dá preço. As parcerias são mais produtivas e lucrativas.

Grupo – Existe um controle sobre esses sites especializados?

Fromer – Não. Nós temos “trocentos” parceiros. Com os grandes parceiros temos acordos muito claros – eles vendem e falam com a gente o dia inteiro, e fazemos troca de coberturas. Eu não tenho um controle sobre o conteúdo deles, mas tenho limitações, há coisas que o Terra não publica. Se ele, o parceiro, quiser publicar no site dele, ele publica, mas não põe nem no site nem na capa do Terra. Eu não sou dona deles, mas temos acordos de como deve ser feito.

Grupo – Você já disse que quer ter todos os tipos de público como audiência do Terra, desde o homossexual ao evangélico. Com que linguagem se comunica uma mesma informação para tantos grupos diferentes?

Fromer – A gente tenta ter na capa um “mix” de assuntos que possa interessar a muitas pessoas (economia, esporte, notícias soft – beleza, moda, culinária, games, diversão -, etc.). Depende também dos horários – a gente sabe que tem um horário em que o público feminino é mais forte, então colocamos mais coisas para ele. Tudo muito controlado, minuto a minuto, a internet exige isso. Tudo é muito estudado para criarmos nichos para que as pessoas possam encontrar os assuntos.
O padrão de texto não é, mas deveria ser o padrão de jornalismo básico (igual para todos). Não vou falar diferente com o moleque de 15 anos, nem com a mulher de 60, nem com o evangélico, nem com o homossexual. Isso não é problema meu. O problema do jornalista é falar certo para todo mundo. O que é isso? O básico que vocês aprenderam na faculdade – um lead decente e um sublead razoável.

Grupo – O lead consegue ter essa qualidade no ritmo alucinado da internet?

Fromer – Tem que conseguir, mas muitas vezes não consegue. Mas tem que fazer, esse é o nosso trabalho. É o que eu falo: lead que demora mais de cinco minutos para subir, para mim, não serve. Jornalista que demora mais de cinco minutos para subir um lead, para mim, não serve. Ele deve subir o lead porque eu tenho que ter a chamada mais importante. Depois ele vai completar a matéria, vai colocar a foto, vai associar o vídeo. Até porque a internet tem tudo isso – associa-se o comentário, um vídeo, um fórum, o “Vc Repórter”. Mas aquilo que é o lead - o que, quem, quando, onde, como e por que –, precisa sair em cinco minutos.

Grupo – A principal qualidade do profissional de web seria esse poder de síntese?

Fromer – Mais que isso: saber qual é a notícia e saber escrevê-la claramente e com rapidez. E não é apenas escrever. Ele deve escrever, deve avisar seu editor que acabou de pegar uma notícia importante, e o editor terá de avisar um coordenador que vai mandar para a capa essa notícia. Ou seja, o profissional de web precisa saber qual é a notícia, precisa ter a rapidez, um texto claro e, mais que tudo, aquilo que eu acho que todo jornalista tem, a esperteza de saber que aquela é “A” notícia.

Nós temos muita gente jovem e pouco tempo no comando para ensiná-los, gentilmente, a fazer as coisas. È um trabalho tenso. Eu sempre digo quando contrato as pessoas: se você não tolera pressão, o que é absolutamente normal, não faça isso. O jornalista tem “trocentas” escolhas, internet é uma delas. Faça isso se você gosta desse tipo de adrenalina para trabalhar, senão faça outra coisa. Em web é preciso gostar disso e, ao mesmo tempo, ser um tanto destemido e muito atento. O erro nos persegue. Você é jornalista, você vai errar. O problema é o seguinte: como é que você cria mecanismos para diminuir a quantidade de erros?

Grupo – A linguagem tende a ser muito do jornalismo impresso?

Fromer – Não. Eu tenho uma opinião: jornalismo é jornalismo. Em revista se faz um “nariz-de-cera”?[2] Faz, mas não pode ser tão viajado, deve ser um que funcione. No diário se faz um “nariz-de-cera”? Não se faz. Em uma notícia de rádio se faz “nariz-de-cera”? Não. Você fala o que, quem, quando, onde, como e porque no jornalismo de rádio? Não, às vezes não precisa, pode-se falar em seguida. Mas, tirando e pondo, jornalismo é o seguinte: escrever bem, saber se expressar bem e organizar o texto. Jornalismos é sempre isso, essencialmente.

Grupo – Os blogs vão revolucionar a literatura ou farão parte dela?

Fromer – Não sei. Eu acho os blogs são um fenômeno super bacana. Para mim, o fenômeno mais legal de liberdade de expressão. Portanto eu acho que o blog tem esse caráter de cidadão, e não só de jornalismo. Certeza de que os blogs vão continuar? Não tenho. As coisas viram muito rápido. Alguém usa ICQ? Mas há seis anos, alguém não usava ICQ? Na internet é tudo muito louco.

Eu acho blog muito legal por tudo isso – é um direito de expressão individual. Ele é prático e permite essas coisas menos jornalísticas, que uma matéria não permite – escrever engraçado, fazer piadas de mau gosto, “cutucar o vizinho” sem precisar ligar para ele e dizer: “Escuta, vou te cutucar. Posso?”

Eu não acho que o blog acaba com os sites. Acho que acrescenta. Todo mundo escuta rádio, a TV não acabou com a rádio. O ser humano tem essa necessidade da informação, faz parte dele. Um meio não elimina o outro. Tanto que teve aquela queda na venda dos jornais, e agora já está tendo um crescimento de novo.

Grupo – Você tem alguma previsão de como estará o webjornalismo daqui dez anos?

Fromer – Não tenho a menor idéia. Não tenho a menor idéia de como vai estar ano que vem. Eu gosto muito por causa disso. De repente criam o Twitter, por exemplo. Eu tenho que parar meu projeto e ver o que está acontecendo com aquilo. Logo que subiu o “Google Maps” todo mundo parou para perguntar: “E agora, o que eu faço?”. É muita coisa. As pessoas inventam coisas bacanas. Coisas que vão durar e coisas que não vão durar.

Grupo – O que se espera de um webjornalista?

Fromer - Ele é um profissional multimídia, ou seja, ele precisa saber entrevistar, fazer um vídeo pelo celular, fotografar, publicar e saber como juntar uma coisa à outra, de forma editada. A grande diferença do profissional de web em relação aos outros profissionais é que ele é um profissional multimídia mesmo. O meu repórter sai na rua e deve mandar um vídeo pelo celular, foto pelo celular e deve entrar na “TV Terra”, entrevistando alguém, pelo celular. Essencialmente ele é um profissional multimídia? Hoje ainda não, mas eu diria que, em mais um ano ou dois, se o profissional não for multimídia, não será contratado para trabalhar em web.
Até o ano que vem pretendemos ter um curso interno para webjornalista, pois é um profissional que faz falta.

Grupo – Para termos uma prévia da palestra da quarta-feira: qual o maior objetivo do webjornalismo?

Fromer – É o mesmo objetivo do jornalismo: informar corretamente as pessoas, da melhor forma possível - com a melhor qualidade possível e com o menor número de erros possível. O mais importante do jornalismo é informar corretamente. Ninguém vai tirar isso da minha cabeça. O importante é prestar um serviço correto, sem erro, confiável, honesto. É grave informar errado e é importante informar certo.
Não adianta escrever 20 parágrafos, se o seu primeiro é péssimo.

Juliana Butolo Dutra, Rafael Silva dos Santos, Shayane Agata da Rocha Servilha e
Vinicius França de Souza Álvares Barreiras


GRUPO
Clara de Moraes Hamasaki, Juliana Butolo Dutra, Lucas Thomaz de Agrella, Lucas Vinícius Biffi de Campos, Rafael Silva dos Santos, Shayane Agata da Rocha Servilha eVinicius França de Souza Álvares Barreiras
[1] Canal de jornalismo participativo do Terra.
[2] Forma mais ou menos romanceada de se começar uma notícia, sem acrescentar nenhuma informação relevante.

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