terça-feira, 30 de setembro de 2008

Importância do jornalismo participativo

“Quando a gente faz da nossa profissão uma coisa pequena, medíocre, a gente deixa leigos tomarem o nosso lugar”. Essa foi a observação que Ana Lúcia Araújo, editora de conteúdo e homepages do site Limão, que pertence ao Grupo Estado, fez no encerramento do VII Encontro de Jornalismo realizado pela UMESP – Universidade Metodista de São Paulo – na quarta-feira à noite, 24. Foi ressaltada a importância do jornalismo como ferramenta de papel histórico dentro da sociedade e do bom preparo dos estudantes de jornalismo. “É importante ter pessoas jovens e bem preparadas nas redações”, destacou.

O encontro, mediado pela professora Camila Escudeiro, da Fajorp – Faculdade de Jornalismo e Relações Públicas –, também contou com a presença de Ricardo Fotios, gerente de conteúdo do UOL e membro da Fajorp, e Margot Pavan, gerente de desenvolvimento de mídia digital da Abril.com. Como os três convidados já haviam trabalhado juntos, houve muita integração durante todo o painel, o que tornou o debate um bate-papo descontraído.

A palestra teve seu enfoque no jornalismo participativo e na interatividade da internet na atualidade. Em um país onde o número de internautas residenciais cresce cada vez mais – alcançando o recorde em julho de 2008 com 23,7 milhões de pessoas conectadas, segundo dados do Ibope/NetRatings divulgados em 27 de agosto ­­­–, Ana Lúcia destacou a importância da internet como um dos principais veículos de informação jornalística no Brasil e a possibilidade de integração imediata com o público. “Na internet a gente sabe que pelo menos o título ele [o leitor] leu, porque ele clicou [...] Aí ele comenta e diz ‘está tudo errado isso que vocês escreveram’, e a gente vai lá e corrige”. Ela ressaltou a importância da opinião e da participação do público como forma de melhorar o papel da internet como jornalismo participativo e exemplificou quando, em 11 de setembro, o mural do UOL ajudou três famílias brasileiras a encontrarem seus familiares em Nova York em meio à confusão daquele dia.



Ana Lúcia, formada pela UMESP, relembrou os primeiros anos de trabalho no UOL, que é joint venture dos grupos Folha e Abril, e depois na Folha Online. Ela diz que foi “um processo muito duro convencer o jornalista de redação a colocar seu material na internet", pois o jornalista podia ter seu material contestado por alguém com mais conhecimento no assunto tratado. Essa contestação, segundo ela, valoriza a informação. "Mais do que prestar um serviço, a gente dava espaço pra essa informação crescer", afirma. Foi debatida também a importância do bate-papo do UOL como uma ferramenta de impulsão da internet no país. “O bate-papo tinha mais audiência que a home da UOL”, lembra Margot.

No comando do Limão desde a sua criação, em 2007, Ana Lúcia explicou que ele surgiu através do trabalho de “pessoas que um dia fizeram o UOL, a Abril, a Folha" e que foi interessante "ver o Estadão abrindo as portas para a participação do público", já que o jornal sempre foi visto como um grupo conservador, que agora está tentando ganhar “a simpatia do público jovem” e interagir mais com o leitor. O portal, que conta com quase 350 mil pessoas cadastradas, busca levar um conteúdo de relevância, com foco no jornalismo colaborativo, de maneira positiva ao público jovem. A origem do nome Limão não é conhecida nem pelos próprios criadores do projeto, porém, segundo Ana Lúcia, a versão mais aceita se trata de um mix entre a localização do Estadão, situado no bairro do Limão, em São Paulo, e, em meio a empresas estrangeiras como Apple e Orange, a “versão brasileira” das frutas, o Limão, que “é usado para tudo”.



A responsabilidade sobre os comentários que os usuários fazem em notícias e posts de blogs também foi discutida. Fotios lembrou a existência de uma jurisprudência que, em caso de processos judiciais, tanto quem gerou o comentário como quem escreveu a notícia e também a entidade responsável pelo site devem responder pelo ocorrido. Ana Lúcia e Margot já tiveram que testemunhar em casos desse tipo. “A gente encontrou muito juiz pouco disposto a entender o que era [a internet] e achar que ia fazer a vida tirando dinheiro da gente. Teve muita má-fé. E aí você viajava [...] [pra responder] acusações de brigas [...] de meninas de 15 anos, uma falando mal da outra, e a culpa era do UOL", relembra Ana Lúcia. A jornalista disse que esse tipo de conjectura era como "culpar a Bic pelas cartas dos seqüestradores".

Ao final do evento, Ana Lúcia, que foi por três anos coordenadora da Pedal no Brasil, uma organização de jornalistas digitais da América Latina, disse que o grande diferencial da internet feita no Brasil com relação àquela feita nos outros países do continente é o idioma. "Os argentinos fazem uma internet de qualidade, de potencial [...] O México também. E a vantagem deles é que eles falam a mesma língua e isso acabou provocando nesses países uma integração muito maior”, exemplifica a jornalista. A audiência do jornalismo online feito pelos países latino-americanos de língua espanhola é ampliada exatamente porque o mercado consumidor é maior.

Reportagens: Thais Cardoso, Taísa Santana, Mylena Rodrigues, Kátia Kawano e TC Muniz Relvas
Edição: Thais Cardoso e Taísa Santana
Fotos: Marina Brandão
Vídeos: Thiago Luis

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